Durante anos senti-me culpada por fazer coisas erradas, ou coisas que eu julgava serem erradas,
por não agir da melhor forma em certas situações, ou com determinadas pessoas.
E essa culpa ia -me criando um peso,
um mal estar interior,
um desconforto,
o não me sentir bem na minha pele.
E com isso vinham sentimentos de tristeza, desmotivação, mágoa, autocrítica, autojulgamento.
Os sentimentos de culpa surgiam através das palavras “DEVIA” ou ” EU TENHO QUE”
Eu devia ter feito isto..
Eu devia ter feito aquilo..
Eu não devia ter dito isto..
Eu devia ter dito aquilo..
Eu não devia..
Eu devia..
Eu tenho que fazer isto..
Eu tenho que fazer aquilo..
Eu não devia ter feito tal coisa..
E assim a minha vida ia caminhado, e a tua possivelmente vai caminhando assim.
Até que depois de chegar aos 40 anos , depois de muitos estudos e práticas, aprendi a retirar a palavrinha “devia” e o “tenho que” do meu vocabulário.
Eu não devia nada.
Eu faço o que posso.
Ás vezes não faço o que poderia ter feito.
É verdade.
Poderia ter feito mais é certo.
Mas naquelas circunstâncias não fiz. (ponto)
E aceito apenas a minha responsabilidade por ter feito ou não ter feito.
Aceito as responsabilidades e as consequências dos meus atos.
Outas vezes, digo o que queria dizer, outras vezes não digo. Ou faço o que queria, ou não faço.
E mais uma vez, é o que é, ou foi o que foi.
A responsabilidade é de novo minha e por isso aceito as consequências dos meu atos.
Ora bem, este novo estado de ser, se por um lado traz-me mais leveza,
livre de culpas, de condenações, de críticas, de julgamentos,
por outro lado traz-me a tal responsabilidade.
E muitas pessoas fogem dessa palavrinha ” responsabilidade”.
E como é viver com responsabilidade?
O sabermos que somos Autores da nossa vida, autores da nossa história.
E que depende de nós, simplesmente depende de nós criarmos a nossa realidade.
E que a culpa não é nossa, nem dos outros, apenas é nossa responsabilidade o que fazemos ou deixamos de fazer na nossa vida e pode, ou não ,haver eventualmente responsabilidade dos outros associada a algum evento.
E tu podes dizer-me: Paula, não sei se isso é bem assim. Não sei se é tão simples assim.
Mas digo-te, na minha visão é simples assim.
E vou procurar explicar-te melhor como tudo funciona.
Quando te tornas responsável pela tua vida e pelas tuas ações,
torna-se necessário também começares a ter mais discernimento e lucidez.
Começas a analisar a tua vida, o o teu dia dia a dia, a analisar as tuas ações , as decisões, e comportamentos e com isso, começas a analisar os resultados obtidos.
Começas a analisar também os teus pensamentos, as tuas emoções e sentimentos.
E consoante os resultados que obténs, consegues perceber o que poderás fazer diferente
se quiseres obter resultados diferentes.
Assim deixas de ser uma vítima da tua vida e passas a ser co-criador desta.
Vou dar alguns exemplos simples para perceberes melhor.
Sábado de manhã o telemóvel desperta, pego nele e desligo-o e penso, vou dormir só mais um bocadinho.
Nisto adormeço e acordo 2 horas depois.
Acabei por perder metade da manhã a dormir, manhã essa que podia ter sido bastante produtiva
se eu tivesse ido fazer uma caminhada, ido ás compras, ido para o jardim , ir nadar no mar etc..
No passado iria sentir-me culpada e pensar, ” deveria ter acordado cedo e levantado logo, agora perdi metade de um dia lindo de sol, e não fiz nada de útil:”
Este ” nada de útil” associado á palavra “deveria” acabava por colocar uma carga bastante negativa em cima de mim, uma carga de crítica, de culpa ,de fracasso, de mágoa, de tristeza, etc…
Para além de não trazer nada de positivo, esse tipo de pensamento e sentimento acabava ainda por me colocar em um estado emocional e mental pior.
Quando tomamos a responsabilidade e conta de nós mesmos as coisas mudam de perspectiva e de interpretação. E atualmente funciona mais ou menos assim:
Pensamento atual,” acordei tarde, dormi mais do que pensei que dormiria, perdi meia manhã, a responsabilidade é minha, agora vou aproveitar o resto do dia o melhor possível, para o dia ser um dia bom. E já aprendi a lição, amanhã vou levantar-me logo quando o despertador tocar.”
Reparem, no passado iria sentir-me mal e culpar-me o resto do dia pelo acontecido. Nesta nova forma de agir, de forma a tomar as minhas responsabilidades, tenho uma atitude mais positiva, aprendo com os erros de forma a melhorar e aproveito o dia presente.
Outro exemplo:
Num certo mês do passado uma amiga veio convidar-me para ir a uma festa de aniversário.
O convite era para ir mais cedo, ajudar nos preparativos da festa e depois aproveitar a festa.
A minha vontade era aproveitar esse dia para mim, tirar o dia para fazer algo tranquilo, passear, escrever.
Mas lá veio a culpa, “Eu tenho que ir ajudar a minha amiga”, ” eu devia ir á festa de aniversário” , ” se eu não for, ela pode ficar zangada ou desiludida comigo ” e então disse que sim, que iria.
Fui ajudar a amiga, indo mais cedo, mas afinal tinha lá imensa gente a ajudar, acabou por não ter grande utilidade a minha ajuda.
Durante a festa, as coisas correram bem, e gostei, mas decididamente teria me sentido bem melhor a fazer o que o meu coração queria, em vez de seguir o que a minha mente achou ser o melhor.
Hoje em dia, ás vezes decido ir a um evento, se tenho essa vontade.
Se não tenho vontade, acabo por dizer que não vou. Assumo a responsabilidade do ato de não ir.
” espero que não fiques chateada, mas está a apetecer-me ficar quieta em casa, hei-de ir em outro momento fazer-te uma visita. Obrigada !”
Pode a amiga ficar chateada,…. pode.
Posso não ser convidada na próxima vez, ….. posso.
Mas também quem me conhece bem , saberá que eu preciso dos meus momentos mais solitários. E que ás vezes sinto-me bem no social, outras vezes prefiro ambientes mais reservados, e está tudo certo.
Respeito os meus gostos e as minhas vontades e aceito a minha responsabilidade pelas minhas decisões. Respeitando também os gostos e vontades dos outros.
E assumo acima de tudo as consequências pelos meus atos.
Muitas vezes o SIM que damos aos outros é um NÃO que damos a nós próprios.
Em outro texto falarei mais sobre o poder de saber dizer não.
Um último exemplo pessoal, na verdade dois.
Acordei pela manhã para ir fazer exercício físico e fazer um pequeno almoço saudável.
O objetivo era eu conseguir atingir uma vida mais saudável e baixar os números na balança também.
Lá vou eu fazer a minha caminhada matinal e sentir-me satisfeita comigo própria.
Estou no comando da minha vida, no comando do meu dia.
Quando chego a casa faço uns ovos mexidos, , café e fruta, ou sumo natural e flocos de aveia.
O dia começou bem.
Vou estudar um pouco e escrever.
E vou almoçar.
No almoço, procuro comer de forma equilibrada.
Tudo está a correr bem.
Final de almoço, olho para uma caixa de bombons e vou comer 1 bombom.
STOP
Pára aí…..
Acabei de sabotar o meu dia… E agora???
(escreverei um texto sobre auto sabotagem no futuro.)
Tenho duas opções, a primeira é culpar-me ” não devia ter comido o chocolate”, ” Tenho que emagrecer”, ” tenho que cuidar do meu corpo” ,” tenho que cuidar da minha saúde” e assim vai.
E com isso, iria sentir-me mal, triste, deprimida, frustrada, culpada. Etc etc..
Segunda opção ” comi o chocolate, sei que quero emagrecer, a responsabilidade é minha” ” As minhas decisões hoje, criam o meu futuro amanhã.
Posso ir fazer outra caminhada para compensar, posso comer apenas uma sopa ao jantar.
Amanhã vou agir de modo diferente e comer uma fruta em vez do chocolate.
Desta forma, ao agir com responsabilidade, torno a minha vida mais leve, e mais positiva.
Não crio sofrimento desnecessário para mim mesma.
Procuro lidar com as situações que surgem, ou que eu crio de melhor forma.
Podendo a cada instante corrigir e alterar de melhor forma uma ação ou não ação, que eu tenha tido
e que não vá de acordo com os meus interesses ou expectativas.